Por décadas, os astrônomos sabem que o nosso Sol contém uma baixa quantidade de lítio, enquanto outras estrelas do tipo solar realmente têm mais. Ao olhar estrelas semelhantes ao Sol para estudar essa anomalia, os cientistas descobriram uma tendência: a maioria das estrelas que hospeda planetas possui menos de 1% da quantidade de lítio exibida pela maioria das outras estrelas. "A explicação desse quebra-cabeça de 60 anos é para nós bastante simples", disse Garik Israelian, principal autor de um artigo publicado na edição desta semana da revista Nature. "O Sol carece de lítio porque possui planetas."
Essa descoberta lança luz não apenas sobre a falta de lítio em nossa estrela, mas também fornece aos astrônomos uma maneira muito eficiente de encontrar estrelas com sistemas planetários.
Isrealian e sua equipe fizeram um censo de 500 estrelas, das quais 70 são conhecidas por hospedar planetas e, em particular, observaram estrelas parecidas com o Sol, quase um quarto de toda a amostra. Usando o espectrógrafo HARPS do ESO, uma equipe de astrônomos descobriu que estrelas semelhantes ao Sol, que hospedam planetas, destruíram seu lítio com muito mais eficiência do que estrelas "sem planeta".
"Por quase 10 anos, tentamos descobrir o que distingue estrelas com sistemas planetários de seus primos estéreis", disse Israel. "Agora descobrimos que a quantidade de lítio em estrelas parecidas com o Sol depende se eles têm ou não planetas".
Essas estrelas têm sido "muito eficientes em destruir o lítio que herdaram ao nascer", disse o membro da equipe Nuno Santos. "Usando nossa amostra grande e exclusiva, também podemos provar que o motivo dessa redução de lítio não está relacionado a nenhuma outra propriedade da estrela, como sua idade."
Ao contrário da maioria dos outros elementos mais leves que o ferro, os núcleos leves de lítio, berílio e boro não são produzidos em quantidades significativas nas estrelas. Em vez disso, acredita-se que o lítio, composto por apenas três prótons e quatro nêutrons, tenha sido produzido principalmente logo após o Big Bang, 13,7 bilhões de anos atrás. A maioria das estrelas terá, portanto, a mesma quantidade de lítio, a menos que esse elemento tenha sido destruído dentro da estrela.
Esse resultado também fornece aos astrônomos uma nova maneira econômica de procurar sistemas planetários: verificando a quantidade de lítio presente em uma estrela, os astrônomos podem decidir quais estrelas são dignas de esforços de observação significativos.
Agora que foi estabelecida uma ligação entre a presença de planetas e curiosamente baixos níveis de lítio, o mecanismo físico por trás dele deve ser investigado. "Existem várias maneiras pelas quais um planeta pode perturbar os movimentos internos da matéria em sua estrela hospedeira, reorganizando a distribuição dos vários elementos químicos e possivelmente causando a destruição do lítio", disse o co-autor Michael Mayor. "Agora cabe aos teóricos descobrir qual é o mais provável de acontecer".
Fonte: ESO